Um Pouco Sobre Cabos e Conectores.

Os dogmas de fé são um requisito absoluto para muitas das afirmações que são feitas por muitos dos colunistas “místicos” do áudio, espalhados por toda a web. Não há informações reais, técnicas, cientificas ou ao menos sensatas. Os únicos termos que você ouvirá serão de natureza subjetiva, como, “sólido, macio, doce, musical” e seus antônimos “abafado, velado, granulado, duro”.A própria seleção das palavras é usada para atraí-lo, de preferência subconscientemente.

Você se depara com coisas tão absurdas como um caríssimo cabo que, se empregado em seu sistema de áudio revelará coisas “surpreendentes” em suas musicas que você jamais pensaria existir.

Cabe aqui uma analogia com relógios: 

Um fabricante de caríssimos relógios Suíços nunca cometerá a besteira de dizer que suas belas obras de arte marcam o tempo de maneira superior àqueles relógios baratos de camelô. E que o sentido do tempo em seus relógios possuem mais profundidade, ou mais Chí !

Com cabos não seria diferente. Você pode optar por pagar preços altíssimos em seus cabos, para obter uma qualidade de áudio que lhe pareça surreal. Ou apenas para demonstrar quanto dinheiro você possui. Mas não fará, num contexto geral, uma diferença real no som.

Se a imagem é importante para você, e você pode pagar por isso, então, esta seria sua escolha. Mas não espere algo surreal destes cabos. E por favor, não tente convencer terceiros de que estes cabos realmente fazem milagre. Milagre este que só é conseguido despendendo uma quantia em dinheiro que estas pessoas não possuem.

– Vale lembrar que existem pessoas cuja acuidade auditiva é muito superior à media, e que podem muito bem ouvir estas diferenças, coisas que “meros mortais”como nós, não somos capazes. Para estas pessoas, um cabo “místico” pode realmente apresentar “melhorias” (ou melhor, diferenças). Mas não significa que estas diferenças possam ser ouvidas pela maioria. Embora seja improvável que alguém admita não ser capaz de distinguir tais diferenças em seus cabos, pois ninguém que ser classificado por não possuir uma audição de pedigree, especialmente após ter adquirido cabos que lhe custaram todo o salário do mês –.

De fato, grande parte da desinformação vem das palavras de pessoas que realmente precisam deste “diferencial” auto-atribuido para garantirem suas posições, seja na editora que os emprega, seja no nicho ao qual fazem parte, a maioria dos quais sabem tão pouco sobre eletrônica, que causa vergonha ate mesmo em mim, um mero estudante. Na verdade considero imoral, pessoas que usam de suas posições para influenciarem na escolha do consumidor com base apenas em critérios totalmente subjetivos.

Inicio da Parte Mensurável.

Os fatores que realmente definem a qualidade elétrica de um condutor são basicamente, resistência, impedância, capacitância e indutância. Mas vamos com calma.

Para fins de audibilidade, nenhum condutor metálico (como o cobre) introduz distorção em um sinal. Digo, distorção não linear, isto é, do tipo que é introduzido pelos componentes ativos de um circuito, que geram harmônicos e intermodulação no sinal original. Nada disto tem qualquer relação com o efeito de película (skin), fator de velocidade ou qualquer outra particularidade dos condutores.

Estamos interessados na simples capacidade de um condutor de conduzir corrente entre dois pontos, sem que seja adicionado qualquer tipo de retificação do sinal ou outros efeitos não lineares. O interessante é que, qualquer condutor de boa procedência (e que não são caros)  fazem isto perfeitamente bem.

Um condutor de cobre e um condutor de prata (Alô Audiófilos) de mesmo comprimento e diâmetro possuem resistências diferentes (apesar de desprezíveis), mas se empregados igualmente, possuem capacitância e indutância iguais.

Ignorando as perdas no alto falante (que é por onde você ouvirá as maravilhas dos seus cabos) e impedância do cabo é desprezível em relação ás impedância dos filtros contidos nos circuitos por onde o sinal é trafegado.

Na verdade, por envolver altas cargas (cargas complexas e recortes de onda inusitados), as ligações entre amplificador e alto falantes são muito mais susceptíveis a variações, mas podem soar apenas diferentes, e não melhores (melhor é um conceito subjetivo que depende muito mais do humor do ouvinte do que de uma desprezível variação de impedância em um cabo de 2m).

Geralmente variações de resistência e indutância em cabos de alto falantes  da ordem de 0.1Ω e 2~5-μH podem causar desvios não maiores do que alguns centésimos de dB (Decibel).Nada audível.

Você pode ate encontrar em alguns casos, referencia sobre a impedância característica de um cabo, mas estes valores só são úteis se tais cabos forem utilizados para frequências de rádio ou serão estendidos por varias centenas de metros, nada com que você e sua guitarra deverão se preocupar. A impedância característica de uma cabo não tem qualquer efeito sobre frequências tão baixas como as frequências do espectro audível.

Suponhamos que queremos transmitir através de um cabo, frequências de ate 100kHz. O comprimento de onda a esta freqüência é de 3000 metros, ou 2400 metros em um cabo com fator de velocidade de 0,8.

Em um estúdio que utilize cabos de 10 metros, a relação, no pior dos casos, é de 1/200 vezes o comprimento de onda de um sinal de 100kHz. O defasamento é tão pequeno que até mesmo maquinas teriam dificuldade de medir tal variação. Esta diferença é muito menor do que a inclinação de 1mm dos seus ouvidos em relação aos monitores durante uma mixagem, gravação ou masterização.

Cobre OFHC.

Cobre OFHC ou, isento de oxigênio, supostamente significa que não há oxigênio, e é claro não há oxido de cobre, que é um retificador. Isto significa que não há a presença de”micro diodos” no condutor, o que causaria uma retificação no sinal de áudio. Mas….mas…. isto significa que toda uma secção de um condutor de cobre deveria ser interceptada por este micro diodo formado naturalmente o que é quase impossível de acontecer. Portanto, considerando regras básicas da eletrônica, concluímos que, mesmo havendo a existência destes diodos no condutor ele não causariam degradação no sinal, pois, como se sabe, um diodo causa uma queda de tensão para que este possa ser transpassado pelo sinal, o que, por conseqüência faria com que o sinal trafegasse livremente pelas áreas não afetas por este fenômeno, por possuirem menor resistência à sua passagem. O Cobre OFHC  é de difícil trefilagem e se torna mais quebradiço.

Efeito de película (skin)

Em radio freqüência, o fio Litz pode ser usado para eliminar o efeito película. Isto ocorre devido à tendência de altas frequência tentarem “fugir” do condutor em forma de ondas eletromagnéticas que se propagam no espaço, de modo que estas se concentram na área mais externo do condutor. Este efeito ocorre a partir de 1Hz, mas só é perceptível em frequências muito acima do espectro audível. Portanto, não tente empregar o fio Litz em seu sistema de áudio, a não ser que você seja capaz de ouvir sinais acima dos 100kHz, ou acredite que um sistema de áudio será capaz de converter as harmônicas ultra mega blaster de um violino para níveis audíveis dentro do nosso espectro.

Capacitância.

A capacitância de um cabo pode sim, causar alterações dramáticas na qualidade do seu sinal, pois, em conjunto com outros fenômenos citados acima, pode se formar um filtro que atue dentro do espectro audível, tornando estas alterações audíveis. E quanto maior o comprimento do cabo, maior será o valor de capacitância. Este valor aumenta proporcionalmente ao aumento do comprimento do cabo.

De modo geral, a maioria dos pré-amplificadores não terão problemas com valores de capacitância menores que 1nF em sinais de baixa impedância.

Em cabos de boa procedência e baixo custo, a capacitância gira em torno de 60~80pF (0,08nF) por metro.

Em uma cabo que possua uma capacitância de 70pF por metro, transmitindo um sinal de impedância igual a 10kΩ, provocará uma queda de amplitude de  sinal de -3dB apartir de 200kHz. No pior dos casos esta atenuação pode começar em frequências menores que 100kHz, considerando resistência e indutância presentes no cabo muito acima dos valores normais encontrados no mercado.

Mas não se preocupe muito com isto. Na maioria dos casos, pré-amplificadores de microfone, guitarras e baixos possuem capacitores em suas entradas, para fins de eliminação de frequências RF muito acima destes valores, algo em torno de 100, 200, ou ate mesmo 680pF.

Conectores banhados a ouro, prata e adamantium das luas de Saturno

O uso de conectores banhados a ouro é comum, e fornece benefícios significativos.

O ouro não perde o brilho (sic). É menos propenso a tornar as conexões ruidosas ( em conjunto com uma boa resistência mecânica do conector). O ouro também é melhor condutor que o níquel, normalmente utilizado, mas só tem efeitos significativos em altíssimas frequências, como é o caso de processadores de dados. O ouro também tem alta resistência à corrosão, aumentando a vida útil de suas conexões.

Mas o que realmente é importante?

Procure sempre comprar cabos de boa procedência, que geralmente não são os mais baratos, mas também não faz sentido comprar cabos milionários que sempre vem acompanhados de uma celebridade do meio( Lembra do relógio?).

Opte por cabos com boa resistência mecânica, robustos. Cabos mais grossos são menos flexíveis, portanto, tenha cuidado ao manuseá-los. Enrole-os em grandes circunferências, evite dobrá-los em ângulos agudos, isto garante a integridade da estrutura isolante (GND) e mecânica do cabo, mantém sua imunidade  à interferências e integridade do conjunto.

Cabos de sinal não são feitos de granito, portanto, não são feitos para serem pisoteados.

Opte por conectores com boa estrutura mecânica, de preferência foliados com metais não oxidantes. Isto garante maior durabilidade e mantém seus terminais sempre em perfeita conexão com os periféricos e seus sinais.

Caso vá montar seus próprios cabos, alem de seguir todas as dicas acima, opte pelos cabos com maior densidade de material em sua malha de terra. Esta garante maior proteção.

Cabos Ópticos.

Ultimamente tem se falado na superioridade de alguns cabos ópticos em relação a outros. Alguns supostamente muito superiores a outros. Apesar de trabalharem com pulsos luminosos 1 (com luz) e 0 (sem luz), não entendo por onde anda a cabeça destas pessoas. Uma vez que, fibras ópticas são utilizadas para transferir dados em altíssimas frequência ao redor de todo o globo com perdas muito baixas mesmo entre distancias enormes. É ridículo afirmar que uma conexão digital deste tipo fará qualquer diferença em um cabo de alguns centímetros.

Sem contar que os próprios receptores destes sinais trabalham com corretores de erros de transmissão. Quanto a dizer que a diferença é audível…………

Cabos de Energia.

Um cabo de energia é apenas uma pequena extensão que leva a energia vinda da tomada 127V ou 220V, 50Hz ou 60Hz, para a entrada de alimentação do seu aparelho.

Existem cabos de energia disponíveis hoje no mercado que desafiam o senso critico ate mesmo dos mais ignorantes no assunto.

Você pagaria R$1000 em um cabo de 2 metros? Daria para comprar um excelente amplificador com esta grana, mas eles estão lá, e alguém deve estar comprando.

O que 2 metros de cabo de energia fariam contra quilômetros de fiação da rede elétrica, com todos os seus cavalares transformadores e capacitores corretores de fator ? Nada. E não estou falando de cabos que possuem filtros em seu interior, estou falando de cabos simples sem nenhuma novidade inclusa.

A distorção contida na rede elétrica pode variar de 1%  a 10% ou ate mais do que isso, variando de acordo com a localidade. E não há nada que você possa fazer quanto a isto. Pois estas distorções são causadas por uma infinidade de coisas, como fontes chaveadas de computadores, notebooks, carregadores de celular, motores de escova (liquidificador), acendedor automático de fogões a gás, entre outras.

Sendo assim, qual a medida mais eficaz a ser tomada contra isto?

Uma boa alternativa seria usar um nobreak (UPS) de onda senoidal completa. Este equipamento consiste em retificar e filtrar a tensão AC (alternada) da rede, tornando-a uma tensão DC (continua). Após esta etapa, esta tensão DC é novamente transformada em uma tensão AC 127 ou 220V de freqüência padrão (60Hz), mas agora esta é uma senoidal pura, sem distorções da rede publica.

Vale também lembrar que, a fonte contida em seu equipamento de áudio (quando bem projetada), elimina completamente estes problemas sem a necessidade de uma UPS, pois elas, alem de reduzir a tensão, também retificam e filtram a tensão assim como uma UPS. Pois um circuito não trabalha com tensões alternadas.

Seria de se esperar que estas distorções contidas na rede publica fossem percebidas o tempo todo, mas parecem se manifestar apenas quando há musica sendo executada.

É improvável que o impasse entre os campos científicos e subjetivistas sejam resolvidos num futuro próximo, pois, como a política e a religião tem demonstrado ao longo de séculos, as pessoas vão acreditar no que elas querem, a despeito de qualquer evidencia que prove o contrario.

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